Ao mesmo tempo
Convidava e dizia
#Haicai - Robson Côgo
O haicai "Há, os teus olhos" de Robson Cogo é uma pequena joia literária que combina a simplicidade formal do haicai com uma profundidade emocional que transcende as palavras. Com apenas três versos, o poema captura a complexidade de uma relação interpessoal, revelando a tensão entre a atração e a comunicação, a presença e a ausência, o silêncio e a palavra.
A primeira linha do haicai, "Há, os teus olhos", é uma afirmação da presença do outro, do seu olhar que se impõe como objeto de contemplação. O "Há" inicial é uma interjeição que indica surpresa ou admiração, como se o poeta estivesse maravilhado com o que vê. Ao mesmo tempo, o uso do pronome possessivo "teus" sugere uma intimidade entre o eu-lírico e o outro, uma familiaridade que transcende a mera observação.
Na segunda linha, o haicai ganha uma dimensão mais complexa, pois o olhar do outro é descrito como algo que "ao mesmo tempo / Convidava e dizia". Essa ambiguidade entre convite e discurso é a chave para entender a tensão do poema. De um lado, o olhar do outro é uma forma de atrair o eu-lírico, de seduzi-lo com sua beleza ou magnetismo. De outro, esse mesmo olhar é uma forma de se comunicar, de expressar algo que não pode ser dito com palavras.
O haicai não explicita o que é que o olhar do outro convidava ou dizia, deixando espaço para a imaginação do leitor. Pode ser que o convite seja para um encontro amoroso, para uma conversa profunda, para uma aventura ousada. Pode ser também que a mensagem seja de outra ordem, como um pedido de ajuda, uma advertência, um desafio. O importante é que o olhar é capaz de evocar múltiplas possibilidades, criando um clima de expectativa e curiosidade.
A última linha do haicai, "Convidava e dizia", reforça a ambiguidade do olhar do outro, sugerindo que essas duas dimensões não são excludentes, mas complementares. O convite e a mensagem são duas faces da mesma moeda, expressando uma complexidade emocional que escapa à simplicidade formal do haicai. O verbo "dizia" sugere que o olhar tem uma intencionalidade comunicativa, que há algo a ser transmitido além da mera beleza ou presença. Ao mesmo tempo, o verbo "convidava" sugere que o olhar é uma forma de estabelecer um vínculo, de estender a mão para o outro, de criar uma oportunidade para a interação.
Ao final, o haicai "Há, os teus olhos" é um convite à reflexão sobre as nuances das relações humanas, sobre como a presença física pode ser ao mesmo tempo uma porta de entrada e uma barreira à comunicação. A escolha das palavras é precisa e econômica, mas não reduz a complexidade do tema abordado. O haicai é um exemplo da capacidade da poesia de condensar emoções e pensamentos em poucas palavras, criando um espaço de significado que transcende as limitações formais.
Um aspecto interessante do haicai de Robson Cogo é a utilização da técnica de corte, uma característica típica do haicai japonês, que consiste em interromper a continuidade do poema entre o segundo e o terceiro verso. Essa quebra brusca deixa um espaço vazio que é preenchido pela imaginação do leitor, dando margem a diferentes interpretações. O corte também cria um ritmo específico, que ajuda a enfatizar a ambiguidade do olhar do outro e a tensão emocional que permeia o poema.
Outro aspecto notável do haicai é o uso de uma linguagem simples e direta, que contrasta com a profundidade emocional do tema. A escolha de palavras como "teus olhos", "convidava" e "dizia" é capaz de evocar uma cena concreta e ao mesmo tempo sugerir uma gama de significados mais amplos. Essa combinação de simplicidade formal e complexidade semântica é uma das características mais marcantes do haicai, e Robson Cogo consegue explorá-la com habilidade.
Por fim, vale ressaltar que o haicai "Há, os teus olhos" é um exemplo de como a poesia pode ser um meio de expressão universal, capaz de transcender as barreiras linguísticas e culturais. Apesar de ser um gênero originário do Japão, o haicai tem sido cultivado em diferentes países e idiomas, adaptando-se às particularidades de cada contexto. O haicai de Robson Cogo é um exemplo dessa diversidade, demonstrando que a simplicidade formal e a profundidade emocional do haicai são características que podem ser exploradas em diferentes línguas e culturas.
Em suma, o haicai "Há, os teus olhos" de Robson Cogo é um pequeno grande poema que combina simplicidade formal e complexidade emocional de forma harmoniosa. Com apenas três versos, o poema é capaz de evocar a presença do outro, a ambiguidade do olhar e a tensão entre a atração e a comunicação. A escolha das palavras, o uso da técnica de corte e a simplicidade formal são elementos que contribuem para a força poética do haicai, criando um espaço de significado que transcende as limitações da forma. Por isso, o haicai de Robson Cogo merece ser lido e apreciado por todos aqueles que valorizam a poesia como forma de expressão.
Arte; Pavel Guzenko
Resenha por IA
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